Um dia Deus encontrava-se muito atarefado. Encontrava-se a moldar um homem, quando apareceu um Anjo e diz:
Também tem que possuir quatro braços, para poder conduzir, disparar e ainda chamar reforços pelo rádio.
O Anjo olha para Deus e diz: quatro braços? Impossível!
Deus responde: os quatro braços não são o problema, mas sim três pares de olhos que necessita.
Também pedem isso nesse modelo? - Pergunta o Anjo.
Sim, necessita de um par com raio-X, para saber quem são os criminosos entre a multidão e o que escondem os seus corpos; de outro par para cuidar de seu camarada e outro para conseguir olhar e zelar pelas vítimas que estejam a sangrar. Ter o discernimento necessário para julgar tudo numa fracção de segundos e dizer que tudo corre bem, quando sabe que isso nem sempre corresponde à verdade.
Nesse momento, o Anjo diz: Descanse e poderá trabalhar amanhã.
Não posso, responde Deus! Além disso ele tem que ser capaz de acalmar ou dominar um toxicodependente de 130 quilos sem nenhum incidente.
Estar sempre pronto para o serviço, com o sentimento de honra a percorrer as veias e ao mesmo tempo manter uma família com seu salário.
Espantado o Anjo pergunta a Deus: Mas Senhor! Não é muita coisa para colocar num só modelo?
Deus rapidamente responde: É, e para acrescentar tudo isso tenho que retirar algumas coisas. Vou tirar o orgulho, pois infelizmente, para ser reconhecido e homenageado ele terá que estar morto, também não irá precisar de compaixão, verá todos os dias da sua vida o que ninguém vê. A dor das vítimas despedaçadas jovens ou velhas, vidas destruídas e ao sair do velório de um companheiro, ele terá que voltar ao serviço e cumprir a sua missão normalmente.
Será uma pessoa fria e cruel? - Pergunta o Anjo.
Claro que não - responde Deus. Quando chegar a casa, deverá esquecer que ficou frente a frente com a morte, deverá dar um abraço carinhoso aos seus filhos e dizer que está tudo bem, terá que esquecer os tiros disparados ao dar um beijo apaixonado a sua esposa, terá que esquecer as ameaças sofridas e fazer contas à vida com o seu salário e terá que ter muita, mas muita coragem para no dia seguinte, acordar e retornar ao trabalho sem saber se irá voltar para casa novamente.
O Anjo olha para o modelo e pergunta confuso: E com tudo isso conseguirá ainda pensar?
Claro que sim! - Responde Deus.
Investigará e prenderá criminosos em menos tempo que cinco juízes discutindo a legalidade dessa prisão... Poderá suportar as cenas de crimes às portas do inferno, consolar a família de uma vítima, interrogar e vasculhar as almas dos criminosos alheando-se dos sentimentos e no outro dia ler nos jornais notícias de como os policias são insensíveis aos "Direitos dos Criminosos".
Por fim, o Anjo olha para o modelo, passa-lhe os dedos pelas pálpebras e diz: Meu Deus, ele está deitando água. Eu acho que está a pôr muita coisa nesse modelo!
Não é água, são lágrimas... Responde Deus.
E porquê lágrimas? - Perguntou o Anjo.
Deus respondeu:
Por todas as emoções que carrega dentro de si...
Por uma mãe morta...
Por uma criança violada...
Por um companheiro caído...
E por um sentimento chamado justiça!
És um génio! - Responde-lhe o Anjo.
Deus olha para o Anjo em tom sério e diz: Não fui eu quem lhe pôs as lágrimas... Ele chora porque é simplesmente um homem!
Sem comentários:
Enviar um comentário